Dia da conscientização da violência contra a pessoa idosa

Por Fabio João Serpa – CEO Vivantt

Nos últimos anos, o Brasil tem vivido uma transição silenciosa e inevitável: o país está envelhecendo. Segundo projeções do IBGE, seremos mais de 35 milhões de pessoas idosas até 2030. Envelhecer deveria ser sinônimo de descanso, cuidado e dignidade. Mas, para muitos, significa também enfrentar o medo — da solidão, da negligência e da violência.

No dia 15 de junho, quando se celebra o Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa, somos convocados a olhar com mais atenção para uma realidade que, muitas vezes, se esconde dentro das próprias casas. O Disque 100, canal oficial de denúncias de violações de direitos humanos, recebeu mais de 74 mil queixas de violência contra idosos somente no primeiro semestre de 2024 — um aumento de 14% em relação ao ano anterior. Os números assustam, mas ainda não dizem tudo.

Violência contra idosos não é apenas aquela que estampa os noticiários. Também está nos gestos negligentes, no silêncio, no abandono. Está em ignorar uma dor, em tratar com impaciência, em deixar de escutar. Está, sobretudo, na ausência de preparo e sensibilidade de quem deveria cuidar.

Tenho dedicado minha trajetória profissional à construção de soluções que coloquem o ser humano no centro do cuidado. Trabalhar com saúde — e especialmente com pessoas idosas — é, antes de tudo, um exercício de escuta ativa. Escutar com empatia, com atenção genuína, com disposição para enxergar a complexidade de cada história. É isso que nos permite construir planos de cuidado mais justos, coerentes e afetivos.

Também é por isso que sempre defendi a importância da formação contínua dos cuidadores. Não basta dominar técnicas: é preciso desenvolver habilidades humanas, compreender os dilemas e heterogeneidade do envelhecimento e estar atento aos sinais, mesmo os mais sutis. Os cuidadores são, muitas vezes, os primeiros a perceber quando algo não vai bem — e, por isso, precisam ser valorizados, preparados e amparados.

O desafio, claro, não é apenas individual, mas social, estrutural e coletivo. Precisamos como sociedade reforçar redes de proteção, cobrar políticas públicas eficazes, incentivar a denúncia e combater o etarismo — esse preconceito que desumaniza e invisibiliza as pessoas idosas.

O envelhecimento não pode ser tratado como um problema a ser resolvido, mas como uma etapa da vida que precisa ser vivida com qualidade, afeto e respeito. Envelhecer faz parte de uma conquista e toda conquista deve ser celebrada com responsabilidade.

Neste 15 de junho, que possamos trocar a indiferença pela escuta. A pressa pela presença. O despreparo pela formação. E que cada um de nós reconheça o papel que tem em garantir uma velhice mais digna, segura e humana para todos.

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